Primeiro, o amor
“O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece”
(1 Coríntios 13:4).
“Todos os vossos atos sejam feitos com amor” (1 Coríntios 16:14).
Alguém já disse que amar é mais difícil que evangelizar. Evangelização sem amor, não acontece de verdade. Sem amor, o anúncio do Evangelho não passa de proselitismo ou de interesses inconfessáveis. Mas, na verdade, Paulo já havia dito em sua primeira epístola aos Coríntios, capítulo treze, que sem amor, nenhuma virtude, nenhum dom, nenhum sacrifício faz o menor sentido. Paulo escreve esse maravilhoso capítulo não a uma comunidade cristã pobre de dons e ministérios ou de manifestações espirituais prodigiosas, não. A Igreja de Coríntio, ao contrário, parecia ser rica na variedade de dons, carismas e ministérios, alguns deles assombrosos quando testemunhados. Entretanto, Paulo diz que embora a aspiração de tais dons seja uma coisa boa, há ainda um dom mais excelente que todos os demais, o dom por excelência do Espírito Santo, o amor. Não qualquer amor, mas o amor derramado nos corações crentes, o amor fruto do Espírito, que é mais que um sentimento, é uma forma de obediência, é um mandamento, é um engajamento pela verdade, justiça e de tudo que é nobre e mereça louvor. O amor é um dom excelente e singelo ao mesmo tempo. A expressão “singeleza” que aparece algumas vezes no Novo Testamento e sempre próxima às palavras amor e coração, no grego tem a noção de ser ‘um caminho suave’, um caminho plano, que não esconde ocasiões de tropeço e nem oferece dificuldades para o cultivo ou para progresso. Esse amor que torna o caminho suave é o que deve ser vivido e experimentado na Igreja nesses dias de retomada das nossas atividades presenciais. Nesses dias de insegurança e incertezas, ainda que observados todos os protocolos de biossegurança, haverá muitas ocasiões para demonstrar esse amor. Em primeiro lugar, fazendo a sua parte com responsabilidade e cuidado. Demonstre o quanto você ama o seu irmão e o quanto se importa com ele não apertando as mãos, não forçando um abraço, não querendo beijar ou ser beijado.
Os toques físicos não são aconselhados, ainda não. E para que ninguém venha a sentir constrangido ou pesaroso mais tarde, saúde o seu irmão com os olhos, com palavras calorosas de acolhimento, diga verbalmente com todas as letras que estava com saudades, mas não toque. Use máscara o tempo todo, para cantar, se na assembleia. Para orar, não retire a sua máscara. Como em uma postagem que recebi esses dias, alguns de nós reclama da obrigatoriedade de usar máscara no templo, mas muitos de nós jamais retiramos aquela outra dos nossos corações fraudulentos e nem por isso nos incomodamos tanto. A máscara não é para a sua proteção em um primeiro momento, mas para a proteção do outro.
Lembre-se de como o Senhor sintetizou os Dez Mandamentos, o amor pelo próximo é simétrico ao que devemos ter por nós mesmos. Mantenha a distância exigida de um metro e meio, observe rigorosamente os lugares para assentar, não faça aglomerações, sei que os cristãos também têm a necessidade de colocar a “fofoca santa” em dia, mas, não é o caso no templo. Após a bênção, deseje a paz e abençoe o seu irmão e vá com Deus! Se você é da terceira idade, tem mais de sessenta anos e ou comorbidades, a sua ausência será sentida por todos nós e temos a clara consciência que você deve sofrer o fato de estar tanto tempo afastado dos irmãos. Também aqui é preciso exercitar o amor em forma de dócil submissão ao que exigem as nossas autoridades sanitárias. Todos fizemos e ainda faremos algum tipo de sacrifício nessa pandemia, mas faça por amor e com amor. Não murmure, não reclame, não espose narrativas de conspiração e nem faça imprecações descabidas e levianas às nossas autoridades, aliás, por quem devemos orar e pedir a bênção de Deus. Por amor, não constranja as lideranças da comunidade sendo voluntarioso e aparecendo no culto, mas, obedeça por amor. Com singeleza, isto é, tornando as coisas mais fáceis, faça a sua inscrição para a participação no culto, encare o fato com naturalidade. Não é o ideal, eu sei, mas é o que é possível ser feito, não há outra maneira de se restringir e ao mesmo tempo possibilitar a frequência dos irmãos. Não assuma uma postura de ofendido, de quem está tendo os seus direitos aviltados. Não seja pirracento, com amor e por amor, faça a sua inscrição como o tal “novo normal”, pelo menos por agora. E, ceda a vez a outros irmãos, procure inscrever-se a cada quinze dias, a fim de que todos possam exercer o privilégio de adorar. E por último, não julgue, não acuse, não faça rotulações gratuitas e descabidas com aquele irmão que podendo vir, sob qualquer justificativa, se encontre em um estado mental, espiritual e até físico que não o permita vir a adoração. Em amor, no tempo devido, a admoestação será feita, a exortação será realizada e até que haja uma resposta, doses sempre maiores de amor, serão exigidos de nós. A retomada será um importante teste de amor para a nossa Igreja.