Deus é bom o tempo todo
Alguns dias atrás, recebi uma mensagem em que uma conhecida compartilhou com
o seu grupo o problema de saúde de uma familiar. Ela havia solicitado, dias antes, oração
em favor dessa parenta, porque ela necessitava, com certa urgência, realizar alguns
exames de imagem que eram caros e precisava que o plano de saúde os autorizasse. A
autorização saiu mais rápido que de costume, e sua parenta conseguiu realizar os exames
para um diagnóstico mais preciso. Ela terminou seu relato com uma frase que ouço com
certa frequência: “Deus é bom em todo o tempo. Deus é muito bom”.
Fiquei pensando na forma como interpretamos e compreendemos a bondade de
Deus. Eu creio, como esta amiga também crê, que Deus é bom em todo tempo. Este é um
dos atributos de Deus. Quanto a isto, não há dúvida. Mas como interpretamos a bondade
divina? Por um instante me coloquei no lugar de uma pessoa pobre, igualmente enferma,
que não tem plano de saúde, não tem recursos financeiros nem amigos influentes, que
depende do sistema público de saúde onde a demanda por exames mais sofisticados
envolve uma longa lista de espera que pode durar alguns meses. Tive a impressão de que
a bondade de Deus parece ser mais evidenciada por quem tem recursos do que por
aqueles que não os tem.
Não pretendo aqui criticar a alegria da família que obteve a autorização rápida para
os exames. É claro que aquilo era motivo de alegria e gratidão. Minha pretensão é refletir
sobre a forma e os critérios que usamos para reconhecer e afirmar o quanto Deus é bom.
Quando os critérios são seletivos a determinadas circunstâncias, e limitados às condições
econômicas e sociais, corremos o risco de compreender de forma limitada e inadequada
a bondade de Deus.
O critério para compreender a bondade de Deus, bem como os seus outros
atributos, como justiça, fidelidade, amor e misericórdia, repousa sobre uma pessoa - Jesus
Cristo -, e sobre um evento: a cruz do Calvário. A bondade de Deus se revela na vida de
compaixão de Jesus e nos extraordinários benefícios oferecidos a nós, gratuitamente,
independente da condição social ou financeira, pela sua morte e ressurreição. A bondade
de Deus não pode ser medida pelas facilidades de determinadas condições econômicas
ou sociais, bem como a sua justiça não pode ser medida pelos critérios da ‘justiça forense’.
A evidência da bondade de Deus está na sua graça através da qual a redenção nos
é conquistada, seu perdão nos é oferecido, e uma nova aliança nos é assegurada. Por
causa da cruz fomos adotados como filhos e filhas de Deus, amados pelo Pai, recebemos
dele o seu reino e aguardamos a promessa de vida eterna. O critério para compreender
os atributos de Deus precisam ser os mesmos para aqueles que tem recursos e para os
que não os tem. Deus é bom em todo o tempo para todos, e o critério para interpretar e
compreender sua bondade não tem sua origem em nós, mas na cruz; sempre na cruz.