Esperançar é preciso
“Onde está então minha esperança? Quem poderá ver alguma esperança para mim?” (Jó
17.15)
Dizem que o ‘verbo’ esperançar foi usado a primeira vez pelo educador Paulo Freire. Eu
mesmo o ouvi, ainda quando jovem, nos lábios de Dom Paulo Evaristo, card. Arns, falecido
arcebispo de São Paulo. A fonte, pouco importa, mas o fato é que desde sempre passei a amar
esse tempo verbal do substantivo feminino esperança. Mais do que nunca ‘esperançar’ é
preciso.
Esperança e otimismo não são exatamente a mesma coisa. O otimismo se funda em
probabilidades, conta com o aleatório, se agarra ao imponderável. O otimismo tem as suas
bases em elementos da natureza, quer no pensamento do próprio homem ou em que haja
uma ‘serendipidade’, isto é, a descoberta de uma coisa boa por acaso.
A esperança, por sua vez, é uma virtude cristã e se fundamenta primeiro no caráter santo, bom
e reto de Deus. Do Senhor só temos a esperar coisas boas, que edificam, que nos trazem paz e
alegria. A esperança se agarra ao fato de que o Pai é sábio e soberano e que em suas mãos e a
partir de suas mãos, as tristezas, as dores e as angústias desta existência, de alguma maneira
inescrutável, trabalham para o nosso bem. Não um bem mirado por nós ou definido por nós,
mas um bem maior, que diz respeito a nossa vida na eternidade e a correção de rumos nessa
vida presente.
A esperança tem os olhos no retrovisor da história, seu chão é o passado e não tanto o
presente. Os que fincam a sua esperança no presente logo são consumidos ou pela ansiedade
ou pela alienação . Aqui entra o papel extraordinário das Sagradas Escrituras, elas nos levam
ao testemunho da história da fidelidade de Deus e seus grandes feitos em favor do seu povo e
de como Ele não trata com indiferença nem mesmo aqueles que o renegam. A Bíblia nos atesta
que para Deus nada é aleatório, tudo tem um fim, um propósito determinado pelo Eterno.
O texto sagrado nos assegura que para o Altíssimo não existem impossíveis e que no final da
história prevalecerá a sua vontade sempre boa, santa e agradável. Também, a Palavra de Deus
nos testifica ao coração de que Ele é veraz e que jamais deixou de cumprir uma só de suas
promessas. Mas, de maneira subordinada e sempre necessitada de exame pela Bíblia, também
a história da igreja e de seus santos ao longo dos séculos, revelam o mesmo enredo das
Escrituras na vida de pessoas tão comuns e ordinárias como eu e você. Olhando para trás, a
esperança nos enche de forças para suportar o presente e de encorajamento para encarar o
futuro.
Todavia, a esperança nos liga e ao mesmo tempo nos empurra também para o tempo que
ainda não veio. Nos faz esperar pelo futuro sem medos e até certo ponto, sem surpresas
definitivas. A esperança nos faz saber de antemão que mal, morte, alienação não possuem a
última palavra sobre a nossa existência. São realidades nas quais estamos inseridos, contudo,
são realidades caducas, fadadas a desaparecer e o bem, a vida e a verdade triunfarão no fim.
Nele (Jesus) não há possibilidade de vitória, uma chance para as coisas darem certo no futuro.
Absolutamente. Nele (Jesus), somos mais que vencedores e desde já. No presente, a esperança
é como uma semente que se espalha e rega. Espalhamos a esperança insistindo todos os dias
em fazer o bem e jamais nos deixar vencer pelo mal ou pela indiferença (outra forma de mal).
A esperança deve ser semeada com gestos concretos de indignação com as injustiças e
maldades presentes no mundo.
A esperança é depositada no solo da história quando nos dirigimos de maneira intencional ao
encontro dos que choram, sofrem privações, são marginalizados, vítimas do descaso ou da
violência. Quando usamos as ocasiões e os meios à nossa disposição para tomar o lado certo
da história, como fez Jesus: “ Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o
lugar onde está escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar
boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da
vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor. Então ele
fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos
nele; e ele começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir "
(Lucas 4:17-21), claro, sem a exclusão de quem quer que seja.
Regamos a esperança quando intensificamos às nossas orações unidas ás angústias e
esperanças da hora presente do mundo, quando intercedemos pelos santos, pedimos em
oração a conversão de pecadores e oramos suplicando a Deus que renove a face da terra,
trazendo justiça a todos. Regamos a esperança quando não negamos amor, quando recusamos
o ódio de qualquer natureza e denunciamos o pecado em qualquer modalidade. A esperança é
disseminada entre os homens, é regada e cresce vicejante no mundo quando não desistimos
de esperançar. Esperance você também!
Reverendo Luiz Fernando é um esperançador na Igreja Presbiteriana Central de Itapira