Adventus Redemptoris
“Então Jesus disse:— Eu sou o Messias, eu que estou falando com você” (João 4.26)
Iniciamos hoje o precioso tempo litúrgico do Advento, não só uma etapa em preparação para as festas natalinas, mas um convite para uma profunda reflexão sobre a redenção. O tempo do advento possui uma significativa tridimensionalidade. Ele conduz o coração dos crentes ao passado, ilumina o presente e aponta para o futuro. Levando-nos ao passado, o advento nos convida à celebração exultante dos grandes feitos de Deus em favor do seu povo. Nos leva a testemunhar a fidelidade do Senhor em cumprir cada uma de suas promessas e, na plenitude dos tempos, ter-nos dado Jesus como o nosso salvador. Assim, o advento nos leva a visitar a história dos atos redentores de Deus na Escrituras e constatar o modo assombrosamente maravilhoso como Ele nos reconciliou consigo e se fez próximo a nós pela encarnação do Verbo. No advento celebramos a irrupção do Deus altíssimo em nossa história, em nossa humanidade. A tridimensionalidade do advento nos fala das ‘três vindas’ do Messias. A primeira, nós já descremos acima, Ele veio em nossa carne. As Escrituras falam de uma volta gloriosa no futuro, na parusia, sobre o que falaremos daqui a pouco. Entretanto, entre uma ‘vinda’ e outra, nós experimentamos as ‘vindas’ de Jesus em nosso tempo, em nosso cotidiano, vindo ao nosso encontro. Como aos discípulos de Emaús (Lc 24.29-31), Jesus muitas vezes se apresenta como o nosso companheiro de peregrinação e estabelece (se intromete!) um diálogo conosco, chamando a atenção para si. Essas ‘vindas’ de Jesus que o advento nos ajuda a celebrar, são os encontros com o Cristo na Palavra, nos Sacramentos, nos Irmãos de fé e de maneira especial, nos Pobres. O advento nos recorda que a nossa expectativa se dá em torno do Deus Conosco, do Emanuel, do ‘Ele está no meio de nós’. Assim, é sempre advento, expectativa, quando nos reunimos para a adoração e a Palavra de Deus é proclamada. Em cada proclamação, em cada sermão, Jesus é ‘chegante’ em nossas vidas. Cada vez que as Escrituras são abertas, lidas com reverência, expostas com fidelidade e acolhidas em fé, é sempre ‘Natal’ nos corações e nas mentes, é sempre uma chegada-presença de Cristo no Espírito trazendo vida, paz e restauração aos crentes. Quando nos reunimos para a celebração dos Sacramentos, também ali existe a alegre expectativa de um encontro pessoal e gracioso com Jesus. No Batismo testemunhamos que o princípio de uma vida nova se deu ali, testemunhamos o ‘vere dies natalis’, o verdadeiro dia do nascimento de alguém que em Cristo, nasce para os céus. Na Ceia do Senhor, quando nos sentamos em torno da mesa é Cristo que vem ao nosso encontro para nos alimentar. Esfaimados que somos, acalentamos a expectativa de que Jesus, pão descido dos céus, nos dê de comer e beber mais uma vez, a fim de concluirmos a nossa peregrinação. Também na associação com os irmãos que comungam a mesma fé e professam a mesma esperança, na comunhão dos santos acolhemos Jesus na pessoa do irmão e assim, em cada encontro fraterno é a Cristo que levamos para o outro e é a Cristo que aspiramos encontrar e amar. O advento nos recorda ainda que os Pobres permanecem um ‘lugar teológico’ para encontrar, ver e servir a Jesus. Ele vem ao nosso encontro no morador de rua, na mulher marginalizada, na infância vulnerável, nos injustiçados de toda ordem. Vem ao nosso encontro no enfermo, no desempregado humilhado pela fome e em todos quantos padecem. É Jesus que neles sofre (Mt 24. 31-46). Assim, nesse tempo litúrgico, aprendemos a esperar por Jesus e recebê-lo nessas ‘vindas’ do cotidiano, que apontam para a necessidade de um Natal a cada dia nos corações. E claro, o avento não se prende ao fato da encarnação e não se reduz a ‘espiritualização’ da santa presença no agora de nossas vidas. O advento aponta e nos empurra para o nosso futuro escatológico. Nos recorda que Jesus voltará e que a igreja, sob certos aspectos, deve cultivar um ‘advento’ contínuo e continuamente perseverar nessa espera por Jesus. Enquanto caminha na história, agradecendo a Deus por sua fidelidade e por seus grandes feitos que importaram em nossa redenção. Enquanto celebra e desfruta a presença de Jesus nos meios de graça e na prática das boas obras no presente, a comunidade dos discípulos nutre em seu seio o ardente desejo de encontrar-se logo e definitivamente com o amado de sua alma. Por isso, um dos brados do advento deve ser, Maranata! Ora, vem Senhor. O advento é o tempo e a celebração da redenção.
Reverendo Luiz Fernando Dos Santos é Ministro da Palavra na Igreja Presbiteriana Central de Itapira