A importância da exegese para o sermão
A IMPORTÂNCIA DA EXEGESE PARA O SERMÃO
Devido à natureza divino-humana das Escrituras o pregador deve se esmerar no estudo da Bíblia. Convencido do princípio da Vox Dei, de que o pregador fiel é Voz de Deus, Calvino tinha o cuidado de extrair das Escrituras o seu verdadeiro significado. É por isso que ele é conhecido como o pai da exegese, o exegeta da reforma, o maior exegeta de todos os tempos, o príncipe dos expositores[1].
O princípio reformado de interpretação ensina que, em meio à dificuldade de se interpretar um texto, deve-se recorrer a outro texto bíblico sobre o assunto que seja mais claro, e ainda, deve-se analisar o ensino de toda a Escritura sobre o assunto. Daí a famosa frase de Lutero: “a Escritura interpreta a si mesma”.[2]
Sob a alegação de que é impossível não haver subjetividade na interpretação do texto sagrado, alguns estudiosos, mal preparados ou mal intencionados, justificam a prática de impor suas preferências e necessidades ao texto sagrado. Sobre isso, Wiersbe afirma:
O processo de interpretação precisa ter sua subjetividade minimizada o máximo possível. Para ser correto, queira ser um instrumento nas mãos do Senhor. Mas alguns elementos da subjetividade sempre estarão presentes. Porque temos uma vida imperfeita, nós sempre traremos a certos textos nossas ideias, influências culturais, cosmovisões limitadas, e outros fatores que formam nossos paradigmas hermenêuticos[3].
Não há dúvidas de que o comentário acima não serve para justificar a subjetividade na interpretação do texto bíblico, e sim, minimizar ao máximo possível qualquer espécie de subjetividade. Embora seja muito difícil se aproximar do texto bíblico sem pressupostos e sem qualquer espécie de teologia pré-concebida, faz-se necessário renunciar opiniões pessoais quando, confrontadas com o texto sagrado, elas se mostrarem antibíblicas.
Muitos pregadores, que nem sequer sabem o que é uma exegese, alegam usar as ferramentas necessárias para uma interpretação fiel. Por isso, é preciso, mesmo que brevemente, delinearmos alguns pressupostos da exegese.
O primeiro trabalho do pregador é realizar um estudo histórico da passagem. Esse estudo consiste em procurar definir, mediante as evidências extraídas da Bíblia ou de outras fontes, quem é o autor do livro, qual a data, local e ocasião em que o texto foi escrito e quais os seus destinatários.
O próximo passo é fazer um estudo contextual da passagem. Esse estudo consiste em se delinear o contexto histórico, os acontecimentos mais importantes do período próximo relacionados ao autor e destinatários; o contexto literário, tanto próximo quanto remoto da passagem; e a estrutura do contexto.
O último passo da exegese é realizar um estudo do texto. Nesse passo o exegeta precisará traduzir o texto original para a língua vernácula; definir o gênero literário, o que é muito importante para a correta interpretação, evitando alegorias indevidas; e definir a estrutura do texto. Além de ajudar a compreender a ordem do discurso, o estudo da estrutura do texto muitas vezes suscita as suas divisões naturais. Na sequência faz-se necessário um estudo das palavras chaves, aspectos gramaticais, mensagem para a época da escrita e teologia do texto.
A exegese deve ser vista como um estudo minucioso que tem por propósito chegar à interpretação do texto para que seja possível fazer as devidas aplicações. Ela é um recurso teológico, histórico e gramatical, e não místico. Ela é de fundamental importância para estudar e expor com fidelidade o texto sagrado.
[1]FERREIRA, W.C. Calvino: Vida, Influência e Teologia. Campinas: Luz Para o Caminho, 1985, p. 162.
[2]LUTERO Apud. GREIDANUS, Sidney. Pregando Cristo a Partir do Antigo Testamento. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2006, p. 134.
[3]WIERSBE, Warren, W. Preaching and Teaching with Imagination. Grand Rapids: Baker, 1994, p. 25 [Tradução Minha].